Cristina Fonseco Monteiro se formou em psicologia em 2007 (PUC), e fez pós-graduação em psicopedagogia clínica pelo Instituto Sedes Sapientiae. Desde 2008 ministra palestras sobre vários temas, e é instrutora empresarial desde 2010. Em 2011 lançou um livro de crônicas junto com outros autores.
CientíficaMente - Cris, por que
você escolheu fazer Psicologia?
Sempre
tive interesse em ajudar as pessoas, assim como sempre precisei de bastante
ajuda para lidar com diversas situações da vida. Aos treze anos, passei por um
momento bastante turbulento na vida, quando me mudei para o Colégio Palmares
que tem um regime rígido, em que fui submetida por muito tempo a bullying, além de muito stress e medo de não conseguir dar conta
daquela missão. À base de vários auxílios – das amigas, da família, de
professores, de professores particulares e de uma psicóloga do colégio –
consegui vencer o pavor de estar ali e ainda permanecer até o final do Ensino
Médio. Desde então, escolhi fazer Psicologia para ajudar as pessoas a viverem
melhor e a superar seus medos.
CientíficaMente - Onde fez o curso, e o
que achou dele?
Fiz
Psicologia na PUC-SP e gostei muito. Achei que o curso me ajudou a voltar a
sonhar, a perceber que eu poderia olhar mais para dentro de mim e me compreender.
Desde o primeiro ano fiz terapia, depois análise e não parei mais. Conheci
pessoas que têm o meu estilo de ser e pensar, que têm profundidade,
característico das pessoas que cursam Psicologia. Isso valeu muito a pena.
CientíficaMente - Quando estava na
graduação, fez algum estágio, algo prático? Como foi?
Fiz
muitos estágios em diversas áreas, notadamente sociais, até porque a graduação
exige isso. Foi importante poder ir para a prática e ver que eu podia existir
para além dos muros da universidade. Fui criada com muita proteção e ali foram
os primeiros ensaios para apalpar a realidade. Não foi uma tarefa fácil. Tive
que quebrar uma bolha e me refazer novamente. Com muita ajuda, paciência e
perseverança, praticamente nasci de novo e hoje estou mais forte.
CientíficaMente - Depois que se
formou, o que fez?
Fui
cursar Psicopedagogia, pois sabia que a clínica psicológica não era fácil.
Acreditava que se eu entrasse em uma escola, poderia ter um respaldo institucional
e não estar totalmente sozinha. Trabalhei como voluntária para projetos de ação
social em abrigos (em São Paulo e em SBC), em escola especial (Colégio
Winnicott), em uma clínica-empresa (atendendo particular e convênios saúde), em
hospital com atuação com grupos de apoio em Psicodrama (Ipq-HC-USP), ministrei
palestras para estudos em um cursinho preparatório para concursos públicos
(Pró-Concurso Educacional), buscando ser uma coaching do estudo, ministrei treinamentos sobre Trabalho em Equipe
na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (em São Paulo e Campinas) e
outros tantos para algumas consultorias (como a MultiMeta Treinamentos).
Cogitei fazer mestrado em Psicologia Social na USP, onde assisti a algumas
aulas e conheci algumas pessoas.
No
entanto, após passar por um processo de coaching,
pude acreditar no meu desejo e na minha capacidade de entrar em uma empresa e
efetivamente ganhar dinheiro. Atualmente atuo no LAB SSJ, uma consultoria de
aprendizagem corporativa, e me realizo por utilizar a escrita e a orientação
para a aprendizagem, assim como me desenvolver no trabalho em equipe.
CientíficaMente - Você clinicou? Como era?
Atuei
em clínica e no hospital. Por um lado, foi bastante realizador poder ajudar as
pessoas. No entanto, a Psicologia Clínica é para aqueles que têm paciência com
o tempo de formação da clínica, tanto em termos financeiros, quanto em termos
do quanto você precisa estar preparado para não se misturar com o paciente e
ter técnicas e métodos eficientes que lhe forneçam o suporte necessário para
lidar com o dia a dia desse tipo de trabalho. Além disso, o trabalho precisa
ser reconhecido, o que não acontece diante dos convênios-saúde e das clínicas
de convênio que desestimulam o terapeuta e atravancam o bom desenvolvimento do
processo terapêutico, em relação ao lado financeiro e ao modo como o processo
terapêutico é visto (limitação de sessões, atrelado a um diagnóstico médico).
CientíficaMente - O que você faz hoje?
Gosta do que faz?
Gosto
bastante do fato de ter um emprego registrado em carteira, ter um salário e me
sentir mais pertencente a um mundo real. Gosto da questão temporal: ter que
ficar 8 horas por dia trabalhando num mesmo lugar, com as mesmas pessoas, em
equipe. Isso me dá estrutura e me dá o chão que eu precisava e ainda preciso.
Além disso, o trabalho que realizo é criativo, dinâmico, lida com os recursos
de aprendizagem nossos e daqueles que receberão treinamentos e isso me mostrou
que podemos nos desenvolver buscando o desenvolvimento pelo incentivo àquilo
que motiva e não apenas no processo de cura atrelada à dor. Isso descola o
psicólogo daquele papel de “curador psíquico” e o coloca num lugar mais
popular, fato que também me deixou mais confortável. Mas um dia ainda quero
voltar a poder atuar nesse papel, mais próximo de desenvolver outras pessoas.
CientíficaMente - O que pensa da sua
trajetória na psicologia?
Por
um lado, é complicado ter um currículo tão variado, porque aparenta que eu não
sabia onde queria chegar. Por outro, sei também da minha diversidade de
interesses, das dificuldades que enfrentei, das lutas que eu venci. Sinto que a
Psicologia é algo praticamente intrínseco a mim: desde pequena incansavelmente
mergulhei na minha subjetividade e minha lente de enxergar o mundo foi esta.
Isso me traz bônus e ônus. E apesar de ir para lá e para cá, garanto que meu
foco é um só: o ser humano.
CientíficaMente - O que pensa da área
da Psicologia em geral, sobre o mercado de trabalho, as possibilidades de
atuação? Como era antigamente e como está hoje?
A
Psicologia é o mundo dos sonhos. A realidade é bem diferente. Acredito que a
Psicologia deveria ser difundida de um jeito que arrancasse os preconceitos e
aquilo que é vendido como Psicologia e não é. As pessoas ainda têm uma ideia
muito irreal da Psicologia: ou você é um santo ou é o demônio... Ou ainda é
alguém que vai falar de mim o que eu já sei, então para que pagar? Mas o
importante é perceber que não dá para estudarmos as coisas e as situações como
algo à parte ao ser humano: aquilo que estudamos veio de alguém e vai para
alguém. A transferência é um fenômeno fortíssimo em nossas vidas. E o papel da
Psicologia é nos possibilitar uma maior expansão da consciência, para esclarecer
nossas ideias, refinar nossas escolhas, ao percebermos melhor a nós mesmos e aos
outros. Enfim, dar aos nossos olhos, novas lentes que nos mostrem outras possibilidades.
Gostaria de agradecer novamente a Cris pela disposição em ser entrevistada.
4 comentários:
Muito bom, fiquei mais entusiasmada para ingressar no curso de Psicologia depois de ler esse depoimento! Ainda não tenho muito o que discutir mas ainda terei. hahaha Agradeço o post, deveriam postar mais depoimentos para auxiliar os adolescentes em dúvida do que 'seguir'; como eu.
Abraços!
Excelente entrevista! Gostei muito dos comentários da Cris.
Oi Cris, fiquei muito feliz de ver sua trajetória e só tenho a parabenizá-la, pois lembro de você no Colégio Palmares, estudei no mesmo ano que você. Sofri dos mesmos problemas que você. Me pergunto o que ainda se pode fazer com um problema tão, mas tão grave de cujo trauma até eu não me livro hoje: O BULLYING.
Só posso deixar registrada aqui a INCOMPETÊNCIA do Colégio Palmares para lidar com um problema como esses e com mais tantos outros. Para mim resta a esperança de que psicopedagogos como você e outros que direta ou indiretamente passaram por isso tenham muito interesse em se ocupar com isso. Porque nesse sentido ainda há muita coisa a ser feita.
E Parabéns mais uma vez!!
Nossa, que interessantes esses comentários pessoal. Pedro, te entendo perfeitamente. Infelizmente, em muitos lugares, as pessoas não estão preparadas para lidar com as dores uqe as instituições e as pessoas que ali habitam causam nelas. Temos que desenvolver resiliência e procurar ajuda. Ainda bem que existem pessoas aptas a nos facilitar isso. Afinal, estamos todos no mesmo barco.
Bjs,
Cris
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