domingo, 17 de janeiro de 2010

Isso é irracional!

O conceito de racionalidade é pouco discutido no círculo da psicologia, sendo mais comum à filosofia. Por isso, decidi escrever um pouco sobre ele, de um ponto de vista da psicologia cognitiva.

Irei me basear no autor Jonathan Baron (2008), professor de psicologia na University of Pennsylvania. Usamos muito o conceito de racionalidade no nosso dia-a-dia, fulano é “racional”, siclano foi “irracional” etc. Nesses casos, racional parece significar decisão acertada, pensada friamente, sem a influência de emoções, com lógica.

Baron tem uma definição diferente para racionalidade, que é pensamento racional é aquele que melhor ajuda as pessoas a atingirem seus objetivos. Isso inclui a procura por evidências que ajudem a uma decisão mais acertada, e inferência. Assim, o pensamento racional pode ser definido relativamente a uma certa pessoa, em certo período, que tem certo conjunto de crenças e objetivos. A racionalidade concerne aos métodos de pensamento que usamos, e não às conclusões do pensar.

Uma pessoa não é “irracional” ou “racional”, porque a racionalidade não é uma questão de tudo ou nada, e sim de grau, um modo de pensar pode ser mais racional que outro.Racionalidade também não é uma questão de pensamento egoísta e frio. Objetivos morais, como respeitar os sentimentos dos outros, ajudar pessoas, são objetivos que a maioria de nós temos.

O pensamento não precisa não ter emoções para ser racional. As emoções são um tipo de evidência, que nos levam a decisão. Além disso, ter emoções prazeirosas normalmente já são os nossos objetivos, assim como evitar as não-prazeirosas.

Normalmente se usa “emoção” como um substituto para “irracional”. A relação entre pensamento racional e emoção é muito mais complexa do que um simples contraste entre eles. Separar razão e emoção é algo comum e equivocado, dificilmente essas duas dimensões são separadas, como tem defendido o neurocientista Antonio Damásio.

Pensar racionalmente também não é o mesmo que pensar muito, porque se refere mais ao método do que a quantidade. Pensar muito leva tempo e pode significar que não se está com um bom método. E cada situação requer um tanto de tempo a ser dispendido.

Outra ideia comum é a de que a pessoa que pensa racionalmente não pode ser uma pessoa feliz. Talvez isso tenha a ver com o fato de pensar que felicidade necessite um tanto de auto-engano. Por exemplo, “essa situação não é tão ruim assim, poderia ser pior”, “não estudei muito, mas deve ser o suficiente para ir bem no teste”. Em alguns casos, o auto-engano pode ser útil, por exemplo, quando se está numa situação que não pode ser mudada (uma doença incurável). Porém, em outros casos, o melhor para atingir seus objetivos é não se enganar. Se você quer tirar boas notas, não se engane achando que o pouco que estudou irá bastar, porque isso o afastará de atingir sua meta.

Referência

Baron, J. (2008) Thinking and deciding. Cambridge University Press.