domingo, 13 de dezembro de 2009

Sociossexualidade

Sociossexualidade é uma palavra grande e aparentemente assustadora, mas cujo significado é simples: se refere às diferenças individuais na propensão a fazer sexo sem proximidade ou compromisso. O termo surgiu com os estudos de Alfred Kinsey sobre a sexualidade na década de 50, em que ele encontrou grande variação individual quanto à prática do sexo casual, que é aquele em que há pouco compromisso e não há paixão envolvida.


Em 1991, Simpson e Gangestad recuperaram o termo e começaram a fazer novas pesquisas, com uma abordagem evolutiva. Na teoria que desenvolveram, os indivíduos chamados de “restritos” (isso não tem conotação moral!) são aqueles que necessitam de uma maior proximidade e comprometimento para poder fazer sexo com um parceiro com quem tem uma relação amorosa, enquanto os indivíduos chamados de “irrestritos” ficam confortáveis em fazer sexo sem compromisso, o sexo casual.


Na verdade, não se trata de uma situação tudo ou nada, em que você é restrito ou é irrestrito e ponto final. Para tentar abarcar melhor uma dimensão tão complexa, os pesquisadores têm entendido a sociossexualidade das pessoas em um contínuo, em que você pode estar em qualquer ponto da linha, tanto em um dos extremos, quanto nas muitas variações dos meios.


Afinal, qual a importância desse tema? A sociossexualidade, como o próprio nome sugere, se relaciona com o social da sua sexualidade, ou seja, você é uma pessoa que precisa estar apaixonado e muito envolvido com uma pessoa para transar, ou nada disso, se sente à vontade para isso ao conhecer a pessoa em uma balada? Seu comportamento sexual, crenças e motivações estão relacionados a esse tema.


Para acessar a sociossexualidade, Simpson e Gasgestad desenvolveram um questionário, o Inventário de Orientação Sociossexual, que reúne, em uma medida, atitudes e comportamentos sociossexuais, tais como: freqüências atuais e desejadas de relações sexuais, número de parceiros sexuais, freqüência de sexo extraconjugal, freqüência de sexo sem comprometimento. O instrumento permite distinguir aqueles que têm propensões mais permissivas quanto ao sexo casual daqueles que não têm.


Um dos achados mais significativos e bem estabelecidos nessa área é a da diferença entre homens e mulheres quanto à sociossexualidade. Diversos estudos foram feitos em muitos países e em muitas culturas, e em todos os homens são mais irrestritos do que as mulheres, ou seja, mais propensos ao sexo casual. Isso pode indicar que os sexos sofreram diferentes pressões evolutivas, com diferentes estratégias sexuais sendo mais bem sucedidas. O mais notável desses estudos foi o de Shmitt e colaboradores, que entrevistaram 14.059 pessoas em seis continentes, dez ilhas, 26 línguas e 48 nações, inclusive no Brasil, e em todos os homens apresentam maior propensão ao sexo casual do que as mulheres.


Os estudos de sociossexualidade também podem nos ajudar a entender diversas culturas, pois apesar de os resultados entre homens e mulheres serem diferentes, em alguns países homens e mulheres estão mais próximos na linha da sociossexualidade, e em outros, mais distantes. Ao longo do tempo, as mulheres também parecem estar aceitando melhor o sexo casual, pode-se estudar essa variação em diferentes gerações, ou diferentes idades. Enfim, muitos estudos podem ser feitos utilizando esse conceito.


Referências


Schmitt, D. P. et al. (2005). Sociosexuality from Argentina to Zimbabwe: A 48-nation study of sex, culture and strategies of human mating. Behavioral and Brain Sciences, 28, 247-311.


Simpson, J. A. Gangestad, S. W. (1991). Individual differences in sociosexuality: evidence for convergent and discriminant validity. Journal of Personality and Social Psychology, 60, 870-883.


Varella, M.A.C. (2007). Variação individual nas estratégias sexuais: alocação de investimentos parentais e pluralismo estratégico.