
A história, por si só, é bastante atraente. Uma neurocientista que foi vítima de um derrame aos 37 anos, que prejudicou grande parte do seu hemisfério cerebral esquerdo, incluindo a área da linguagem, e que ao longo dos anos conseguiu se recuperar plenamente. Sua visão sobre o que aconteceu, incluindo o dia do derrame e a sua recuperação, são bastante únicos por ser uma especialista no assunto.
Logo na Introdução a autora recomenda que se leia primeiro os capítulos 19 e 20, com lições básicas sobre as funções cerebrais, para que seu relato seja mais compreendido pelo público leigo. Como ela mesma previu, grande parte das pessoas não consegue fazer isso e já começa a ler a história, e não fiz diferente, até porque já tenho conhecimentos básico em neurociências.
Os três primeiros capítulos, sobre a vida dela antes do derrame, o dia do derrame e o pedido de socorro são muito envolventes. Fui sugada pelo relato e me envolvi com a história, ficando bastante apreensiva ao longo da leitura. Creio que alguém que tenha algum conhecido que sofreu um derrame vá se identificar bastante com a história narrada por Jill.
A intensidade da empolgação dos primeiros capítulos não continuou nos outros, pelo menos para mim. Considero que a autora tenha narrado sua recuperação de um modo confuso, o que não permite o acompanhamento linear e progressivo; fica difícil saber que parte que ela recuperou primeiro e como, e quais depois. Enfim, ela misturou muitos momentos, é possível que para ela a descrição e ordem dos eventos estivesse clara, mas para o leitor não. Talvez para que a parte da recuperação fosse melhor compreendida, um livro bem maior fosse necessário.

Mesmo no sentido de autoajuda, creio que o livro é fraco. As dicas que da autora para darmos mais espaço para o hemisfério direito em nossas vidas são senso-comum: meditar, rezar, cantar, sorrir, não julgar os outros, aproveitar o tempo presente, perdoar, ter compaixão... O marketing do livro é falar coisas óbvias, que todos sabem, pela boca de uma neurocientista. Como neurociência virou a nova febre, e parece conter toda a verdade das coisas, o livro parece trazer grandes revelações - o que não corresponde ao que li.
Nos últimos capítulos, me reconciliei um pouco com o livro. A autora fala de neurociência, do funcionamento do cérebro, em palavras simples, fáceis de serem compreendidas, enfim, informações bem básicas mas interessante para leigos. Gostei mais das dicas que ofereceu sobre como lidar com uma pessoa em recuperação de um derrame, para uma família que esteja com um ente nessa situação, considero leitura essencial, e embora pudesse ser muito mais completa, é melhor do que nada.

De qualquer forma, como fiz psicologia e tenho conhecimento sobre neurociência, talvez para mim o livro tenha soado superficial, mas não para um leigo no assunto. Achei o subtítulo completamente apelativo, não vi nada sobre como “reprogramar” a mente, sem ser o que todos já sabem por conhecimento popular. Acho que a autora também peca em exagerar na neurociência, como se falar toda hora em neurônios, sinapses, hemisférios cerebrais provesse legitimidade a todas as experiências humanas. Mas essa é outra discussão.
Taylor, J.B. (2008). A cientista que curou seu próprio cérebro. Ediouro. 223 páginas.
2 comentários:
Gente, o título chama muita atenção, quando vi pensei: quero comprar logo! Mas lendo sua resenha desanimei bastante.
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