domingo, 20 de setembro de 2009

Intercâmbio na UMinho – o que aprendi – parte II


Continuando a falar sobre meu intercâmbio (leia a parte I), sobre o que a UMinho tinha de diferente.

5 – Uso de softwares – Nas matérias do mestrado integrado em Psicologia Experimental, aprendemos bastante sobre o uso de softwares para realizar pesquisa. Foi algo que eu nunca tinha tido contato, e que mudou meu conceito sobre pesquisa. Aprendemos a usar o Praat (utilizado na área da linguagem), o G-power (ferramenta de estatística) e o SuperLab. Esse último oferece muitas possibilidades, o utilizamos para pesquisas na áreas da memória e na de linguagem, mas pode ser usado em muitas outras áreas. As aulas eram bastante práticas, voltadas para o aprendizado dessas ferramentas. As avaliações eram, por exemplo, realizar uma pesquisa utilizando o SuperLab, ou então provas realizadas no computador, em que tínhamos que elaborar uma pesquisa para avaliar X aspecto, usando o SuperLab. Isso fez com que eu aprendesse a dominar essas técnicas, o que foi muito importante. Agora sei outras formas de pesquisa além do questionário e da entrevista.

6 – Grupos pequenos – Só fiz uma matéria em que havia muitos alunos, as outras cinco eram grupos bem pequenos, entre 6 e 15 alunos. Há um acompanhamento mais de perto do aluno, um aprendizado mais tutorial, como foi proposto por Bolonha. As vantagens são óbvias, há mais espaço para a participação, acompanhamento, discussão, enfim, o grupo cresce mais rápido, na minha opinião, do que em um grupo muito grande.

7 – Participação em pesquisas – na UMinho os alunos podem ter como parte da nota nas matérias a participação, como sujeitos, em pesquisas. Isso facilita, e muito, a vida do pesquisador, porque consegue mais facilmente os participantes. Por outro lado, trata-se de alunos de Psicologia, o que pode enviesar algumas pesquisas (é uma crítica conhecida na área da Psicologia – a das pesquisas serem feitas, em sua maioria, com estudantes de Psicologia). Na ótica do aluno, pode ser incômodo ter que participar de pesquisas a todo o momento (não é obrigatório, mas como é uma parte da nota, a maioria tende a aceitar), mas ao mesmo tempo o leva a ter um contato maior com pesquisas, com formas e temas o que considero importante.

Esses são só alguns pontos, os que ficaram mais marcados. Essa foi minha experiência, outras pessoas podem ir à mesma universidade e ver outros aspectos. O intercâmbio foi muito marcante, porque mudou minha visão da Psicologia, mudou meus planos de carreira, não fugindo do clichê, abriu meu horizonte. Às vezes, ficamos muito fechados em nossa universidade, e não temos a possibilidade de ter uma vivência de algo diferente. O mesmo curso, em outra universidade, em outra cidade, em outro país, pode ser muito diferente. Não necessariamente você vai gostar de tudo, concordar com tudo, porém terá algo com que confrontar sua visão habitual, o que já é enriquecedor.

Quanto à minha experiência, só posso dizer que a UMinho acrescentou muito em minha vida. Agradeço muito aos professores, que em geral me aceitaram bem, e me ensinaram muito, mesmo. Ser intercambista não é fácil, você já parte de uma desvantagem com relação aos alunos regulares, que tiveram a educação inteira naquele país, têm a cultura daquele país, e fizeram toda a graduação ali. Quando o professor diz, “Como já vimos antes...” a vida de um Erasmus se complica. Ainda assim, o desafio é interessantíssimo. Procurar entender aquela visão, aquela forma de entender a Psicologia, de trabalhar e pesquisar nela, correr atrás de pelo menos um pouco que já foi dado, tentar, em alguns momentos ser como um aluno regular de lá, e ao mesmo tempo, saber, a todo momento, que é um estrangeiro (não só de outro país, mas de outra Psicologia!). Por isso, nem sempre nosso rendimento, nossas notas, são como a dos alunos regulares. As minhas não foram. Encarei o desafio de fazer muitas matérias, por isso nem sempre consegui me dedicar a todas como deveria, mas esse desafio me fez crescer bastante. Não me arrependo, portanto, da minha escolha de cursar seis disciplinas. O que trouxe delas foi muito maior do que as notas que estão escritas no meu papel do intercâmbio. Foi uma mudança de postura, de entendimento, de ponto de vista, de planos, de rumos, que ninguém conseguirá medir facilmente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Isabella,

É muito bom ler tuas postagens que falam das experiências no intercâmbio.

Isso me faz refletir sobre a psicologia que se ensina aqui no Brasil, algumas vezes tão distante da realidade internacional.
Que bom se todos pudessem ter uma experiência como esta para abrirem os olhos para o que está acontecendo fora daqui. Não que o que se faz no Brasil seja sempre ruim, todavia, em muitos casos pecamos por achar que o que sabemos já basta, que nao há mais nada de novo sendo produzido sobre tal tema.

no mais, estou aprendendo muito com suas postagens!

um abraço,
Eduardo Benkendorf
Academico de psicologia na Unidavi (SC) e membro do grupo de pesquisa Filosofia da Mente e Ciencias Cognitivas na mesma instituição.

Isabella Bertelli disse...

Obrigada, Eduardo!
Sim, concordo com vc qnd diz que no Brasil há coisas boas. Discordo de cursos que só e somente só lêem coisas dos EUA.. claro que lá o volume de publicações é mto maior, mas não podemos ignorar o que o resto do mundo faz, mto menos por ser o Brasil ou América Latina... por outro lado, acredito que seja importante estar a par do que é feito lá fora, ficar de olho nos congressos internacionais, enfim, estar um pouco na onda do resto do mundo, principalmente das boas universidades estrangeiras...