Os estudos modernos com gêmeos demonstram que aqueles que foram separados no nascimento ou pouco depois dele são mais semelhantes do que os que foram criados juntos ou separados com uma idade mais avançada. Como isso pode ser explicado?
O estudo com gêmeos é muito importante para a psicologia, pois se trata de uma situação natural que parece ter sido bolada por cientistas: pessoas com carga genética idêntica (no caso dos monozigóticos), que tanto podem ter a mesma criação, quando criadas juntas, como criações totalmente diferentes, quando são separadas no nascimento. O debate nature versus nurture ou natureza versus criação se enriquece através de estudos empíricos com esse grupo de pessoas.
Até a década de 70 os estudos com gêmeos não eram confiáveis, pois envolviam invenção de dados, falta de ética etc. Hoje, a maioria dos estudos com gêmeos são realizados com mais cuidados, e são comuns principalmente na disciplina conhecida como genética do comportamento. Entre humanos, aproximadamente 1 em cada 250 nascimentos é de gêmeos idênticos e muitos das pesquisas são feitas em países escandinavos, onde os governos mantém gigantescos bancos de dados sobre seus cidadãos.
Voltando à questão inicial, Ridley (2003) provê uma possível explicação para o fato de que as pesquisas apontam que gêmeos idênticos criados separados sejam mais semelhantes do que os criados juntos:
“Pequenas diferenças no caráter inato são exageradas pela prática, não aplainadas por ela. Isso é o que acontece entre gêmeos idênticos. Se um é mais extrovertido que outro, eles gradualmente exagerarão esta diferença” (Ridley, 2003, p. 323).
Portanto, os gêmeos criados juntos tenderiam a reforçar suas diferenças para se diferenciarem um do outro, já os separados não teriam essa preocupação. De qualquer forma, os testes confirmam que os gêmeos idênticos, separados ou não ao nascer, são muito parecidos, mas não idênticos, em praticamente qualquer característica que se possa medir, seja em se tratando de personalidade, de hábitos ou de desenvolvimentos de doenças.
“(...) a esquizofrenia é acentuadamente concordante com gêmeos idênticos, que têm em comum todo o DNA e a maior parte do ambiente, porém muito menos concordante com gêmeos fraternos, que têm em comum apenas metade do DNA (do DNA que varia na população) e a maior parte do ambiente” (Pinker, 2004, p. 74).
Muitas outras condições que são encontradas em famílias são mais concordantes em gêmeos idênticos do que em gêmeos não-idênticos, são mais acertadamente prognosticadas com base em parentes biológicos do que em parentes adotivos e mal prognosticadas com base em qualquer característica mensurável do ambiente. São algumas dessas condições: autismo, dislexia, atraso na linguagem, deficiência na linguagem, depressões graves, distúrbio bipolar, distúrbio obsessivo-compulsivo, orientação sexual etc.
Gêmeos idênticos são muito mais semelhantes do que os não-idênticos, sejam criados juntos ou separados, gêmeos idênticos criados separadamente são muito semelhantes; irmãos biológicos, sejam criados juntos ou separados, são muito mais parecidos do que irmãos adotivos. Além disso, gêmeos idênticos criados separadamente são muito mais similares que gêmeos não-idênticos criados separadamente.
“Gêmeos idênticos pensam e sentem de modos tão semelhantes que às vezes desconfiam estar ligados por telepatia. (...) São semelhantes em inteligência verbal, matemática e geral, no grau de satisfação com a vida e em características de personalidade como ser introvertido, aquiescente, neurótico, consciencioso e receptivo à experiência. Têm atitudes semelhantes diante de questões polêmicas como pena de morte, religião e música moderna. São parecidos não só em testes de papel e lápis, mas no comportamento consequencial como jogar-se, divorciar-se, cometer crimes, envolver-se em acidentes e ver televisão. (...)”. (Pinker, 2004, p. 74).
Assim, os estudos demonstram que diferenças em mentes podem provir de diferenças em genes. Isso não significa que o papel da criação seja nulo, pelo contrário, a herdabilidade depende inteiramente do contexto. De qualquer forma, o papel dos genes não pode ser ignorado.
Para saber mais
Pinker, S. (2004) Tábula rasa - negação contemporânea da natureza humana. São Paulo: Companhia das Letras.
Pinker, S. (2004) Tábula rasa - negação contemporânea da natureza humana. São Paulo: Companhia das Letras.
Ridley, M. (2003) O que nos faz humanos. Editora Record.
7 comentários:
Salve, Isabella! Eu tive a oportunidade de conhecer gêmeos idênticos - por falar nisto, ambos são biofísicos... - e aquela citação de "parecerem telepáticos" me fez recordar um evento que até hoje me causa calafrios: eu presenciei ambos discutindo durante o sono!... Não duvido nada que até os sonhos de ambos sejam praticamente idênticos, também...
Isabella, seu blog é ótimo! Coloquei um link em um post no meu. Volto sempre, beijo
hehehe
conheci trigêmeos que se revelavam bem diferentes entre si apesar de receberam tudo igual dos pais.
eles reclamavam que não podiam fazer muita coisa porque sempre faziam o gasto era triplo.
concluí que deve haver algo, realmente, talvez na formação do feto, que mude as tendencias deles pois a carga genética é a mesma(já que são monozigóticos) e a criação é quase a mesma(ja que estudam no mesmo colégio e são criados em um rígido regime de igualdade em casa)
o curioso é que os estímulos externos como sons ou emoções da mãe são exatamente os mesmos.
talvez, como você sugeriu, uma pequena diferença entre os gêmeos se atenue por causa de uma espécie de grito interno por uma identidade unica.
só não vejo como um gêmeo pode intensificar sua inteligência e o outro não pois ser mais ou menos inteligente não me parece ser uma coisa controlável...
muito bom o post...
Uma coisa interessante, que deve ser levada em consideração, é que não existe uma criação idêntica. Apesar de ser possível criar os gêmeos de maneira muito parecida e teoricamente igual, uma mesma pessoa, exposta a um mesmo estímulo em diferentes momentos, pode interpretar esse estímulo de maneira diferente. Isso significa que talvez uma mesma forma de tratar os gêmeos vai ser interpretada de forma diferente pelos dois, resultando em criações ligeiramente diferentes. Também acho difícil tratar exatamente igual duas pessoas. Seja por um olhar diferente ou coisa do tipo, sempre acho que haverá algum tipo de diferença mínima.
Porém, não acho que isso seja suficiente para descartar os estudos com gêmeos. Longe disso =P só gostaria de lembrar que não existe exatamente mesma criação, assim como o código genético dos gêmeos pode não ser exatamente idêntico, tendo em alguns lugares falhas de replicação diferentes que todo ser humano tem.
btw, o comentário anterior é meu. Não sei pq as contas google gostam de sempre colocar um nome diferente toda vez que eu posto >.<
Isabella parabéns pelo blog e pelo texto, você sabe que sou seu fã número um!! Achei o texto muito bom, mais ainda porque estou atualmente estudando bastante sobre gêmeos e veio bem a calhar!
Aliás para aqueles que quiserem saber mais sobre Psicologia e gêmeos procurem por Nancy Segal. Achei uma revisão de um livro dela que parece muito bom. É só acessar esse link http://www.epjournal.net/filestore/EP05344346.pdf
Marco
Bom, acho que os melhores estudos são aqueles em que os gemeos são criados em familias diferentes (gemeos adotados). Assim, o fator criação fica minimizado (mas não eliminado, pois as familias podem ter o mesmo perfil).
Isabela, talvez vc se interessem em concorrer a este premio:
http://portal.cnpq.br/portal/page/portal/CNPq/premioIgualdadeGenero
Postar um comentário