
Científica Mente - Professor, quando alguém te pergunta o que você é, qual a sua resposta?
Klaus – Eu digo que sou psicólogo.
Científica Mente - Você leciona duas matérias aqui na USP sobre percepção. Porque não se considera um psicólogo da percepção? Existe esse nome?
Klaus – Não, me considero um psicólogo especializado em comportamento, de modo geral, e o comportamento tem várias facetas. Uma delas é a percepção, é a parte sensorial, ou seja, a recepção de estímulos que vão gerar o comportamento. Eu não diria psicólogo da percepção, é apenas uma especialidade dentro da psicologia.
Científica Mente - E como o senhor define psicologia?
Klaus - Psicologia envolve estudar o comportamento, ou seja, o software do ser humano, que é um animal.

Klaus - Tem várias aplicações práticas, por exemplo, dentro da propaganda, dentro do design ligado à arquitetura, da ergonomia. Então, essa especialidade tem a capacidade de gerar uma atividade profissional.

Klaus - Primeiramente há uma importância histórica, porque a psicologia científica começou estudando a percepção, considerando-se seu início com Wundt no fim do século XIX. Até mesmo os filósofos gregos se interessaram pela percepção. Portanto, do ponto de vista histórico se trata de um tema importante. Do ponto de vista conceitual da psicologia também é importante porque todo comportamento é conseqüência da recepção de estímulos. A psicologia da percepção estuda esse primeiro elo do comportamento.
Científica Mente – Não me esqueço de uma vez que o senhor passou em uma das suas perguntinhas do final das aulas o porquê de nós não gostarmos de estudar percepção. Você já encontrou uma resposta?
Klaus - Dentro do conceito de psicologia que a maioria das pessoas têm, a clínica é privilegiada. Ou seja, a visão de que há uma pessoa apresentando, por exemplo, um comportamento que não gostaria de ter, e o psicólogo seria aquele que ajudaria o indivíduo a mudar esse comportamento. E um outro conceito comum em psicologia é de que ela atua no relacionamento entre pessoas. Os alunos de psicologia geralmente chegam com esses conceitos. O conteúdo dado na minha disciplina é, na visão dos alunos, muito árido. Há uma certa tensão, certo temor. Acho até compreensível. Trata-se de algo diferente de outras matérias, em alguns pontos é mais científico, é diferente de opinião. Em clínica há mais essa questão da opinião, e do que a linha teórica prega. Em percepção não, há mais contato com outras áreas do conhecimento, como biologia, física, química. É um conhecimento mais fundamentado, nem sempre está de acordo com a psicologia clínica.
Científica Mente – Mesmo sendo uma área tão diferente da clínica, que parece ser a que os alunos preferem, você acha que é válido eles estudarem percepção?
Klaus – Sim, claro, tanto pelo ponto de vista da história da psicologia quanto por estar ligada ao comportamento. Mesmo alguém que vá trabalhar com psicologia clínica precisa saber que o comportamento de uma pessoa está ligado a como os estímulos chegam até ela. Talvez não faça parte daquilo que o clínico vai tentar modificar, mas ele tem que estar consciente de que aquilo que ele tenta modificar tem uma causa, que pode estar ligada à percepção.
Científica Mente – E quanto a alguém que queira fazer especialização nessa área, vai ficar restrito à pesquisa e à vida acadêmica?


Uma vez vi uma pesquisa com alunos de psicologia no primeiro e último anos do curso. Foi dada a eles a tarefa de fazer um desenho de um psicólogo trabalhando. Nos dois grupos, de ingressantes e concluintes, o desenho do psicólogo clínico tradicional em consultório foi feito pela esmagadora maioria. Ou seja, nós mesmos, da área, não temos idéia de quanto o campo de atuação pode ser grande, e durante o curso isso não é mudado. Confesso que fiquei surpresa quando o professor Klaus me falou sobre a possibilidade de um psicólogo trabalhar com sinais de trânsito, ou em empresas de automóveis.
Precisamos nos informar mais sobre as possibilidades, para ganharmos em conhecimento, não excluindo matérias por achá-las inúteis, e também para ganharmos em possibilidades de emprego. Não acho que seja uma obrigação dos alunos gostar de todas as matérias e de todas as áreas. O problema não é esse. O problema é excluirmos conteúdos por puro preconceito e ignorância. Nos fechamos a uma visão super restrita do que é um psicólogo, e o que é pior, muitas vezes carregada de informações erradas e de senso comum. Se isso continuar assim, a idéia que as pessoas em geral tem do psicólogo vai continuar sendo propagada. E os nossos cinco anos de formação terão feito muito pouco por nós - ou melhor, nós teremos feito muito pouco neles.
Um comentário:
acho que não só por este motivo, o de ser mais científico, os alunos tem a tendencia de não gostar de estudar percepção.
talvez tenha alguma relação mesmo com o ego pois cada um tem uma capacidade perceptiva diferente.
há quem crie padrões do que deve ser percebido e isso se infiltrou no senso comum colocando um cientísta como sendo mais inteligente que um ronaldinho gaúcho(que tem uma inteligência diferente)
no final so alunos ficam com receio de serem surpreendidos como tendo percepção inferior aos demais e acabam criando uma barreira protetora.
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