

Cientificamente - Primeiro vou lhe fazer algumas perguntas com relação ao curso de Psicologia na UMinho. O senhor poderia falar um pouco sobre as propinas e em que se baseia o Estado para poder cobrá-las? (Aqui cabe um parêntesis. Nas universidades portuguesas públicas, o aluno paga um certo valor, que é chamado de propinas – não confunda com o sentido brasileiro, que é criminoso. São taxas que todo aluno deve pagar para poder cursar a universidade pública).
A propina é uma taxa que é imputada ao aluno para permitir a freqüência no ensino superior. Ela determina que um aluno médio em Portugal do ensino superior, digamos assim, custa X, por exemplo, 5 mil euros por ano. O aluno deve ser responsável pelo pagamento de até um quinto desse valor. O restante do valor da formação do aluno é a verba que o Estado dá às universidades por cada aluno que tem. A Universidade do Minho recebe por cada aluno cerca de 4 mil euros do Estado, sendo que o restante do custo médio estimado por aluno ao ano tem que ser suportado pelo aluno. Isso pode fazer com que de ano para ano, as propinas possam variar. De fato, a propina foi muito baixa até uns anos atrás, mas agora se aproxima de um quinto do valor, e agora as universidades praticam o valor máximo que podem cobrar como propina, que é um quinto desse custo estimado médio. Estamos a falar das propinas do mestrado integrado, pois depois há as propinas do doutoramento, que têm valores completamente diferentes, bem mais altos.
Cientificamente - Para o doutoramento, como são as regras?

Cientificamente - O valor da propina pode ser divido para pagamento em vezes? Porque apesar de não ser um valor tão elevado, muitas famílias podem ter dificuldade de pagar.
Sim, pode ser dividido em vezes, se não me engano, em até quatro vezes. Também temos um serviço de ação social, em que os alunos mais carentes podem ter bolsas, que podem até chegar à redução do valor da propina. O que acontece é que o sistema fiscal português, como em muitos outros países, é fácil de furar. Pode acontecer de uma pessoa de classe média superior, porque tem rendimentos anuais declarados baixos pode ter acesso a uma propina enquanto alguém que trabalha para o Estado e que não pode fugir ao fisco, pode não ter acesso a certos auxílios. Em Portugal, quem paga mais impostos é a classe média. Porque a maioria trabalha para o Estado e não pode fugir ao fisco. Ainda bem, porque acho que todos devemos pagar impostos, mas todos deveriam pagar o que têm que pagar, e não só a classe média.
Cientificamente – O senhor acha que em Portugal funciona aquele ideal de os alunos com menos poder aquisitivo irem para as universidades pública, e os com maior poder aquisitivo irem para as públicas?

Cientificamente – Aqui na universidade há um tipo de aluno que se chama aluno-trabalhador. Quais os benefícios que ele tem?

Cientificamente – Como estão os cursos de psicologia em Portugal?
Em Portugal há muitos cursos de psicologia. Recentemente, com a adesão ao processo de Bolonha e com o mestrado integrado, surgiu a idéia de que não é mais suficiente três anos para a prática da psicologia, são necessários cinco anos com os dois últimos sendo a especialização. O Estado começou a regulamentar as universidades que têm competência para realizar esse tipo de mestrado integrado, que são poucas: Uminho, Porto, Lisboa, Coimbra e o ISPA. São só cinco no país inteiro, quatro públicas e o ISPA, que é privado. As outras universidades oferecem um primeiro ciclo, um bacharelado, e depois podem oferecer o segundo ciclo. Com esta nova regra para os cursos de psicologia, é provável que esses cinco cursos se estruturem como os mais fortes, e os que não conseguirem chegar, terão cada vez menos alunos. Os alunos vão ser confrontados com isso. Posso entrar em um curso de cinco anos que me garante o exercício profissional ou em um outro que não me garante. Recentemente, as bolsas da FCT que são para os alunos do doutoramento, começaram a beneficiar aqueles que já vêm com o mestrado integrado, dando mais pontuação a eles. Isso mostra que o próprio Estado, depois de ter criado o mestrado integrado, está a começar a valorizar as candidaturas desse tipo de formando. É mais uma indicação de que no futuro os mestrados integrados estarão associados ao doutoramento. Claramente há essa idéia de que a formação em psicologia deve ter três ciclos contínuos [primeiro – licenciatura, segundo – mestrado, terceiro – doutorado].
Cientificamente – O curso de psicologia da universidade do minho oferece mestrado em sete áreas - Psicologia Clínica; Psicologia da Saúde; Psicologia Escolar e da Educação; Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos; Psicologia da Justiça; Psicologia do Desporto e do Exercício; e Psicologia Experimental e suas Aplicações. Qual especialização os alunos preferem?

Cientificamente – Qual é a área mais concorrida? E a menos?
A mais concorrida é a clínica e a menos concorrida é desporto. Nos últimos anos, escolar e organizações têm crescido. Experimental e desporto são áreas menores. Apesar de tudo, a área de experimental consegue preencher todas as vagas, pois são poucas. A área em que sempre há mais candidatos do que vagas é justiça. Nesse caso, a seleção é por nota. Aliás, todas as seleções são por nota, seja para as disciplinas, para estágios. E no mestrado, temos sempre mais vaga do que alunos. O que varia é o número de vagas em cada área, por isso as vezes um mestrado é muito concorrido e tem mais alunos do que vagas. As vagas que sobram são abertas para alunos de outras universidades.
Queria agradecer ao professor Pedro por ter cedido seu tempo para essa entrevista. É interessante saber o funcionamento de uma outra universidade, principalmente em outro país, ainda mais Portugal, pelo nosso passado colonial.