Por Isabella Bertelli Cabral dos Santos e Marco Antônio Corrêa Varella

A) podemos adquirir alguma imunidade crítica de modo a não nos deixar ser manipulados e a desmascarar aqueles enganadores sociais, o que dá muito trabalho e fama de chato, de cricri ou mesmo cético;
B) ou podemos nós mesmos atuar como enganadores sociais, e enriquecer com artimanhas nos aproveitarmos das fraquezas argumentativas alheias, pena que o mercado já está muito saturado e concorrido, vide todo o discurso político, místico, propagandístico, fantástico entre outros;
C) ou então podemos nos tornar enganados com propriedade, conscientes de como somos manipulados, para sermos mais facilmente ludibriados e felizes, essa é uma boa porque não competimos com os enganadores profissionais e ainda ajudamos a menosprezar os céticos.
Bom, já que você é uma pessoa sensata, optou pela melhor opção!! Você quer mais é acreditar

E siga-as plenamente e serás o maior dos enganados. Qualquer semelhança com horário eleitoral, astrologia, quiromancia, tarô, búzios, numerologia, futurologia, comercial de televisão, auto-ajuda quântica, conversa de autoridade religiosa ou vendedor não será mera coincidência.
1 – Evite o teste da observação.
O teste da observação é incômodo de ser aplicado. Aliás, evite qualquer forma de teste que possa ter um resultado infeliz. Prefira os testes da autoridade, comodidade e familiaridade.
No primeiro, o da autoridade, simplesmente focalize a autoridade, ou seja, quem está dizendo aquilo, e não o que está dizendo. A ênfase na autoridade nos livra de ter que pensar novamente para decidir a respeito da verdade ou falsidade de cada nova afirmação. Podemos avaliar a autoridade de uma vez por todas, e, desta maneira, tomar por antecipação a decisão de aceitar (ou rejeitar) suas afirmações futuras. Os critérios normalmente aceitos para avaliar uma autoridade são: prestígio, poder, sabedoria ou confiança pessoal. Abandonar o teste da autoridade pelo teste da observação pode ser muito arriscado – seja sensato e não desafie seu ídolo.
O teste da comodidade é facilmente aplicável. Ele requer simplesmente que aceitemos as
afirmações agradáveis e rejeitemos as desagradáveis. Um tipo importante de afirmação agradável é aquela que remete a alguma coisa boa. O otimismo é um exemplo. O otimista se associa à possibilidade de alguma coisa boa. Pode-se crer que possamos permitir que nossa população continue a crescer, porque podemos subsistir às custas dos recursos do planeta ou porque a ciência achará uma solução para a poluição. Pode-se acreditar que a astrologia nos ajudará a conduzir nossos afazeres cotidianos.
1 – Evite o teste da observação.
O teste da observação é incômodo de ser aplicado. Aliás, evite qualquer forma de teste que possa ter um resultado infeliz. Prefira os testes da autoridade, comodidade e familiaridade.

O teste da comodidade é facilmente aplicável. Ele requer simplesmente que aceitemos as

Outro tipo importante de afirmação agradável é aquela que nos desliga de alguma coisa má. Como exemplos, temos a projeção e seus mecanismos relacionados. Se temos alguns sentimentos, como o medo ou o ódio, que não combinam bem com nosso auto-conceito, poderá ser cômodo, pelo menos no sentido de remover o desconforto, vê-los como essencialmente atribuíveis aos outros, como simplesmente uma resposta ao mal dos outros. Poderá ser cômodo saber que qualquer ódio que possamos sentir é a resposta de um homem virtuoso aos erros dos outros.
E o teste da familiaridade requer que aceitemos afirmações familiares e rejeitemos as não-familiares. As afirmações repetidas com freqüência, como qualquer publicitário sabe, devem conter um germe de verdade: “Brasileiro não desiste nunca”, “Se faz caretas no espelho, sua cara ficará desse jeito”, “Se aconteceu isso, é porque era para ser”.
2 – Evite termos bem definidos
O objetivo aqui é evitar referências empíricas explícitas, isto é, evitar a verificabilidade. Quatro sugestões podem ser oferecidas para se alcançar esse objetivo:
a) Usar termos vagos – Se os termos que se usa para se referir a observações são suficientemente vagos, então a observação será de pouca utilidade para se decidir sobre a veracidade ou falsidade de qualquer afirmação que os contenha. Os biscoitinhos da felicidade e o horóscopo sempre dizem: “Você tomará uma importante decisão brevemente”, evitando cuidadosamente qualquer definição de “importante” ou “brevemente”.
E o teste da familiaridade requer que aceitemos afirmações familiares e rejeitemos as não-familiares. As afirmações repetidas com freqüência, como qualquer publicitário sabe, devem conter um germe de verdade: “Brasileiro não desiste nunca”, “Se faz caretas no espelho, sua cara ficará desse jeito”, “Se aconteceu isso, é porque era para ser”.
2 – Evite termos bem definidos
O objetivo aqui é evitar referências empíricas explícitas, isto é, evitar a verificabilidade. Quatro sugestões podem ser oferecidas para se alcançar esse objetivo:

b) Usar definições verbais – Se for necessário definir os termos, deve-se simplesmente substituir um conjunto de termos, operacionalmente vagos, por outro tão vago quanto. “O que significa essa importante decisão?” “Aquela que você enfrentará e terá que escolher um caminho a seguir”.
c) Usar afirmações circulares – Se se fizer uma afirmação relacionando um termo vago (“Todas as pessoas boas...”) com um termo preciso (“votaram contra a Lei de Biossegurança”), mas se definir o termo vago como tendo apenas a relação estabelecida com o termo preciso (“uma boa pessoa é aquela que, entre outras coisas, teria votado contra a Lei de Biossegurança”) ter-se-á produzido uma afirmação inatacável pelos fatos. Ao se dizer que os crentes verdadeiros nunca morrem, e um suposto crente morre, ponderar-se-á que, pode definição, ele não poderia ser um crente verdadeiro.

3 – Se for preciso observação, que seja da não-controlada
Este princípio estabelece que, se duas variáveis se alteram conjuntamente, elas devem estar causalmente relacionadas. Trabalhos escolares mais longos têm notas mais altas do que os trabalhos mais curtos; portanto, o professor conta as páginas. Este é essencialmente o tipo de raciocínio “depois disto, portanto por causa disto”. O valor desse princípio é que há tantas variáveis que variam conjuntamente em situações naturais e não-controladas que se dispõe de bastante liberdade na escolha das variáveis causais. Por exemplo, a taxa dos crimes aumentou nos últimos anos. Ao mesmo tempo, outras variáveis alteraram-se: a moral sofreu um abalo, o desemprego aumentou, os procedimentos de detecção de crimes foram modernizados e as posições das estrelas no céu alteraram-se. O princípio da observação não-controlada permite que se selecione qualquer uma destas variáveis para se explicar o aumento da taxa de crimes.
4 – Uma vez que tenha chegado a uma conclusão, generalize-a o mais amplamente possível

5 – Uma explicação, uma vez aceita, não mais precisa ser rejeitada; as inconsistências com outras afirmações podem sempre ser tornadas ineficazes ignorando ou modificando uma das afirmações ou a relação entre elas.

Se for necessário pensar, deve-se ter cuidado: pense de maneira a modificar uma das idéias ou a relação entre elas de modo a produzir uma aparência de compatibilidade. Tal pensamento “camuflador” é o que chamamos de racionalização, e é um meio importante de se obter a confirmação psicológica. Duas estratégias podem ser usadas.

B) No fortalecimento simplesmente muda-se frente a uma idéia, de tal forma que ela pareça mais congruente com outra. Um estudante fraco um curso pode dizer que não está muito interessado. Existe menos desconforto associado ao fracasso em obter alguma coisa que realmente não se deseja. Por outro lado, podemos enfatizar os aspectos desejáveis das coisas às quais estamos associados. Uma pessoa que acabou de comprar um carro novo torna-se altamente interessada em propagandas que exaltam a sua virtude; um homem que lutou na guerra está mais inclinado a pensar que a guerra é justificável.
Pode-se também modificar a relação entre idéias conflitantes inventando-se uma história plausível na qual ambas as idéias são aceitáveis. Alguém diz ter poderes mágicos, num momento de falha pode-se argumentar que alguém usou uma mágica mais forte.


“(...) Uma dimensão importante do crescimento pessoal é o aperfeiçoamento do raciocínio. Desta forma, o método científico não deve ser deixado para uma elite científica (...). Um número significativo de indivíduos precisa se tornar possuidor desse conhecimento. Eles precisam aprender a pensar (também) cientificamente a respeito dos problemas que consideram importantes”. (Anderson, 1977).
Referência
Anderson, B.F. (1977) O experimento em psicologia. Editora pedagógica e universitária ltda. São Paulo.
3 comentários:
como sou adepto do Ridendo Castigat Mores(com o riso castiga-se os costumes), creio ser mais impactante um título do tipo:
Manual do medíocre: um guia para ser ordinário feliz.
Sabe, eu também já tive a esperança de ajudar as pessoas a terem um bom senso crítico mas não podemos ajudar quem não quer ser ajudado...
por isso decidi rir.se tem algo que nos incomoda é que riam de nós, nos causa uma dor.mais especificamente um medo e Nietzsche diz que é melhor doutrinar pela dor do que pelo prazer simplesmente porque a dor busca suas origens e o prazer basta-se a sí próprio...
ótimo post, faço questão de ler todo o seu blog...
abraços...
Magnífico o texto.
À perspectiva psicológica, se podem agregar elementos vindos da Filosofia, em particular da disciplina do pensamento crítico, que, ainda que por motivos distintos, correm às mesmas conclusões de denúncia do auto-engano.
Esse o problema central da filosofia, senão o problema existencial pleno: abrirmo-nos ao real ou ao subterfúgio ou, noutras palavras, distinguir o real da aparência de real ?
Parabéns e abraços
Vicente
Sucinto, claro, lúcido e, pois, magnífico o texto. Parabenizo os Autores.
O tema tratado, no viés psicológico, é central nas filosofias espistemológica e moral, que nada mais fazem senão, respectivamente, orbitar sobre as condições de distinguir a realidade da aparência de realidade e do dever de conduta pela razão ou pela aparência de razão, no sentido do auto-engano consentido.
Eu tenho me ocupado muito no assunto e, se com a licença dos autores, gostaria de tirar trechos deste texto para um curso que pretendo prover.
Cumprimentos
Vicente do Prado Tolezano
vicente.tolezano@tolezano.com.br
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