quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Simpósio em Psicobiologia





Para inscrição online: www.cb.ufrn.br/simpsicobio

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Você prefere ganhar R$ 100,00 hoje ou R$ 200,00 no mês que vem?


Muitas pessoas respondem que preferem ganhar R$ 100,00 hoje, mesmo que o valor no mês que vem seja maior. Por quê?

A preferência por uma recompensa imediata a uma maior, mas mais tarde, é um dos comportamentos mais conhecidos no reino animal. Não são só os humanos que o fazem, como também os outros animais. Pombos famintos que têm que escolher entre bicar um aparato que lhes fornece comida imediatamente por dois segundos ou um que lhes fornece comida por seis segundos, porém 10 segundos mais tarde, preferem a primeira situação.

Foi feito um experimento com crianças pequenas, que tendo que optar entre receber um brinquedo atrativo em cinco minutos ou um menos atrativo imediatamente, escolhiam o último (Mischel, 1984 citado em Baron, 2008).

Nós parecemos ser, de certo modo, injustos com nossos futuros, como que temporariamente míopes quando encaramos uma situação em que temos que decidir entre o agora ou o depois. Dar menos peso para o futuro do que para o presente é chamado de desconto do futuro (discounting the future). Trata-se de preferir consumir e adquirir recursos de modo mais imediato do que esperar pelo futuro – desconto do meu futuro para ter agora. Na psicologia em geral, o desconto do futuro é mais conhecido como impulsividade (Ainslie, 1975 citado em Baron, 2008). Por que isso acontece?

Para Daly & Wilson, pesquisadores envolvidos com o tema, o imediato é preferido porque o adiamento do ganho de recursos ou benefícios aumenta o risco de que ele seja perdido de alguma maneira. Sob uma perspectiva evolucionista, em condições equivalentes, a seleção natural favorecerá a reprodução que ocorrer mais cedo em comparação com a tardia. Esses autores fizeram várias pesquisas relacionadas à violência, pois tal indiferença em relação ao futuro pode encorajar formas imprudentes e violentas de comportamentos de risco.

Quanto à diferença entre os sexos, encontraram que os homens apresentam-se mais propensos que as mulheres a correr riscos e a descontar o futuro, provavelmente porque os ancestrais masculinos tinham que competir pelas fêmeas, sendo favorecidas adaptações para a competição intra-sexual e avaliação de risco. Essa hipótese, hoje em dia, parece apresentar uma resposta às evidências de diferença intersexual quanto às altas taxas masculinas de acidente, homicídio, suicídio, uso de drogas e contração de doenças sexualmente transmissíveis, em comparação às femininas (Daly & Wilson, 2001).



Baron (2008) traz um outro argumento. Para ele, o desconto do futuro faz sentido porque eventos imprevistos podem afetar a importância ou utilidade do bem de consumo (ou outra coisa) para um indivíduo. Por exemplo, no tempo decorrido entre agora e quando você conseguir ganhar R$50,00, a economia pode ser assolada por uma onda de inflação que faça com que o dinheiro valha menos, ou então você pode morrer, ou, numa versão mais otimista, você pode ganhar na loteria e se tornar um milionário, sem necessidade de tal quantia insignificante. Ainda que o desconto possa ser útil, as pessoas têm descontado seu futuro demais, de modo que pode ser danoso para elas.

Exemplos envolvem casos de violência, como os estudados por Daly & Wilson, mas também podem ocorrer em eventos mais corriqueiros, por exemplo, na hora de comer. Descontar o futuro na comida ocorre quando, por exemplo, você vai a uma festa e come muito mais do que precisaria para ficar satisfeito. Isso pode refletir, dentre outros fatores, a tendência a acumular o máximo possível de recursos de uma vez, antes que eles acabem e que haja uma chance de você não ter mais acesso a eles no futuro.

Exemplos de desconto do futuro na área econômica são fartos. Um exemplo é o estudo de Thaler & Shefrin sobre compra de ar-condicionado. Os aparelhos de ar-condicionado diferem em seu custo inicial e nas despesas de uso. Esses pesquisadores encontraram que as pessoas prestam mais atenção ao custo inicial do que nas despesas de uso, que só serão pagas no futuro, depois que o ar-condicionado já tiver sido instalado. Essa mesma situação provavelmente ocorre na compra de muitos outros produtos: carro, computador, geladeira etc.

Muitas pessoas são conscientes da dificuldade de auto-controle e de sua tendência a negligenciar o futuro. Quando vêem uma situação que requer auto-controle, normalmente dão um jeito de se auto-restringir (bind themselves), mesmo se tiverem que pagar para fazer isso. O auto-controle é assunto para outro post...

Referências

Baron, J. (2008) Thinking and deciding. Cambridge university press.

Daly, M. & Wilson, M. (2001) Risk-taking, intrasexual competition, and homicide. Nebraska Symposium on Motivation, v. 47, p. 1-36.

Daly, M. & Wilson, M. (2005) Carpe Diem: Adaptation and Devaluing the Future. The Quarterly Review of Biology, v. 80, p. 55–60.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cognição social


Para falar dessa área de estudo pouco conhecida por essa denominação, que é a cognição social, é preciso falar de outras, que a precederam. Uma é a psicologia social, que pode ser entendida sucintamente como o estudo do modo como os pensamentos, sentimentos e ações das pessoas são influenciados pelo ambiente social. Um famoso experimento da psicologia social é o de Milgram (1974), sobre a obediência.

Outra área é a da psicologia cognitiva, que é o estudo das habilidades mentais, como a percepção, a linguagem, a memória, a aprendizagem, a resolução de problemas, em que a mente é pensada numa analogia com um computador, uma processadora de informações. Um estudo famoso da área é sobre o fenômeno stroop (Stroop, 1935).

A cognição social nasceu da soma da psicologia social com a psicologia cognitiva, e é o estudo de como as pessoas fazem sentido do seu mundo social: como percebem, representam, interpretam e lembram de informação sobre elas mesmas e sobre outros indivíduos e grupos. As teorias e as metodologias da psicologia cognitiva são aplicadas às questões da psicologia social clássica.

O que a cognição social pode estudar? Um exemplo é o fenômeno de estereotipia. Na psicologia social clássica temos experimentos sobre competição e aprendizado social e influência da norma. A cognição social foca no processamento de informações, introduzindo novas metodologias e teorias. Por exemplo, no fenômeno de estereotipia pode ser citado o estudo sobre o fenômeno stroop e a percepção de pessoas (Karylowski, Motes, Curry & Van Liempd, 2002), em que nomes de pessoas famosas negras e brancas foram escritos com as cores branca e preta. As pessoas liam mais rapidamente a cor em que as palavras estavam escritas quando correspondia à cor da pessoa famosa do que quando não correspondia.

Outros possíveis estudos são: o que leva as pessoas a verem o copo “metade cheio” ou "metade vazio”? Por que tendemos a achar que estamos acima da média? Por que achamos errado comermos nossos animais de estimação, mas não as vacas?

Para Lewis e Carpendale (2008), o termo cognição social é enganosamente simples. Aparentemente se refere ao entendimento do mundo social, mas esconde um longo debate entre os modelos cognitivos do comportamento social e o desenvolvimento, e tem, ainda, a pretensão de entender as origens sociais da cognição.


Referências


Karylowski, M.A. Motes, D.C., Van Liempd. (2002) In what font color is Bill Cosby's name written? Automatic racial categorization in a Stroop effect. North American Journal of Psychology.

Lewis, C., Carpendale, J. (2008) Social cognition: introduction. Cognitive systems research 9, 375-393.

Milgram, S. (1974). Obedience to authority. New York: Harper & How.

Stroop, J.R. (1935). Studies of interference in serial verbal reactions. Journal of Experimental Psychology, 18, 643–662.